
Saí do meu sertão amado para o Recife aos 17 anos, para prestar vestibular e entrar numa faculdade. Meu pai queria que eu fizesse medicina ou direito, que são as profissões que quase todos os pais sertanejos desejam para seus filhos, e que (segundo ele) impõem mais respeito para as mulheres. Mas eu escolhi ciências da computação, uma área completamente desconhecida para ele. E conversamos:
- Pai, o senhor nunca ouviu falar que toda família bem sucedida deve ter um médico, um advogado, um engenheiro e um padre. Faz de conta que eu sou a engenheira da família.
- E é, é? Então eu vou logo avisando que padre eu não aceito aqui em casa! Todo filho meu tem que botar fogo no roçado!
- E é, é? hummmmm....
- EEEEEEI!!!! Ave Maria, ave Maria, ave Maria! Não foi isso que eu quis dizer.... ô mulher, vem aqui conversar com sua filha! Ave Maria, ave Maria!
Muito antes de Millor Fernandes, papai já dizia que celibato é coisa de pervertido. E mamãe chega para acalorar a conversa.
- É o quê?
- Converse com sua filha. Avise logo que ela só pode namorar depois que se formar.
- E desde quando diploma ajuda a namorar? A gente aprende é na prática, não na teoria.
- Homi, mulher! Você tá doida? Eu casei com você pra você me ajudar, não pra falar essas coisas pra minha filha!
- Homi, homi! E desde quando pai empata filho de namorar? Você quer que ela namore escondida?
Então papai se volta para mim, e fala sério:
- Olhe minha filha, eu não aceito que você namore escondida, mas se namorar, por favor não me diga. Fale só pra sua mãe.
Mamãe segue duas célebres linhas de educação: A cognitiva comportamental e a "Te vira malandro". Para cada filho ela tem uma abordagem diferenciada, segundo sua personalidade, suas aptidões, suas vivências. Agora, se alguém fizer besteira, ela chama pra uma conversa e manda a gente arrumar tudo antes que papai chegue, senão o bicho pega.
No meu caso, por exemplo, enquanto papai me via rodeada por uma aura rosa, de personalidade meiga, indefesa e abestalhada, ela já me ensinava a assumir a responsabilidade por meus atos, me fazendo pensar em conseqüências antes de qualquer ato. Ou seja, mamãe me ensinou a sentir medo, mas de uma forma positiva, responsável.
E o engraçado disso é que herdei o espírito ousado de papai (que insiste em me tratar como uma menina frágil), e o pensamento ponderado de mamãe (que me ensinou a calcular meus saltos para voar cada vez mais alto).
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