Viajante

Olhou o céu e viu que o dia passava mais rápido do que imaginara. Não entendeu porque aquela estrela piscava tanto. Parecia aflita.

Continuou sua caminhada. Ainda havia muito para se ver naquela cidade: igrejas, museus, pontes, jardins, lojas. Não podia perder tempo. Na sua mochila o lanche do dia, alguns mapas, e o roteiro de uma semana, resumido a dois ou três dias, no máximo. Não podia perder tempo. Não entendera que não precisava visitar todos os lugares possíveis, mas que deveria guardar uma boa lembrança de cada um que visitasse. Não podia perder tempo.

Talvez, se tivesse entendido isso desde o início, percebesse que naquele museu havia o quadro de uma bela moça, de bochechas rosadas, que o fazia relembrar sua tia preferida. Talvez tivesse visto um casal de pombos aninhados na torre da antiga catedral, e imaginado quantos amores já haviam sido documentados naquela construção de séculos. Talvez tivesse percebido que as flores do grande jardim, embora belíssimas, eram apenas adereços perto daquela fonte de pedra, onde estava escrito um poema de adeus. Quem sabe até percebesse que ao lado daquela estação de metrô havia um charmoso café, que vendia os mais belos postais e um chocolate quente delicioso. Se tivesse parado ali, descansado os ombros e fechado os olhos enquanto saboreava sua bebida, talvez percebesse o quanto aquele calor no peito lhe era agradável, e sentisse vontade de partilhá-lo com alguém. Provavelmente não conseguiria concluir seu roteiro de viagem, e mesmo assim se daria por satisfeito.

Se não tivesse tanta pressa de viver, talvez tivesse vivido mais do que pretendia.

2 comentários:

Gustavo Santos disse...

exatamente o que eu precisava ler hoje :)

Anônimo disse...

Muito lindo!
Super bem escrito, parabéns!