Era uma vez um "SE"

Era uma vez uma moça que ficou encantada com um rapaz, e achava que era correspondida. Rolava um "sei lá o quê" quando se viam. Ainda não era uma paixão arrebatadora, mas tinha grande potencial para ser. Até parecia que pequenas descargas elétricas aconteciam quando seus braços se tocavam, assim, por acidente. Eles conversavam de vez em quando, soltavam suaves indiretas sobre seus sentimentos, ela ficava ruborizada, e ele gaguejava um pouco. Ambos falavam de seus planos mirabolantes, e sempre perguntavam o que o outro faria, como se dissessem "Você vem comigo?". Mas nunca passaram disso, sabe-se lá o porquê. Porque tinham medo do sentimento não ser mútuo, porque tinham medo do que aquilo poderia vir a ser, ou porque esperavam que o outro tomasse a iniciativa. Acabaram esquecendo um do outro, e tomando rumos diferentes. Mas sempre que se viam, soltavam aquele suspiro, e pensavam "Ahh, se tivesse acontecido".

Era outra vez, num reino distante, um rapaz que conhecia uma moça muito tímida, até meio esquisita, mas que o encantava de alguma forma. Ele próprio também era muito tímido, e assim não poderiam se aproximar. Estavam fadados a nunca se comunicarem, a nunca estarem próximos um do outro. Mas os seres místicos que costumam aparecer nos bailes de carnaval gostam de pregar peças, e o moço tímido se viu dançando com a moça tímida, como num passe de mágica. O que fazer naquele momento? Ambos não sabiam como agir, afinal os encantamentos são passageiros e não caía bem dançar marchinha de carnaval abraçadinhos. Não tiveram dúvidas e se beijaram rapidamente. A história poderia acabar ali com um final feliz, se o feitiço da timidez não fosse mais forte. Embora desejassem, nossos heróis não conseguiam se dirigirem a palavra novamente. Cada um na sua torre. O tempo passou, e outras pessoas venceram os encantamentos que os adormeciam. Deste conto sobraram apenas rápidos olhares à distancia, e aquela dúvida: "E se eu tivesse falado primeiro?".

Era uma vez uma moça e um rapaz que pareciam terem sido feitos um para o outro. Ambos enxergavam no outro várias qualidades, e demonstravam satisfação com a presença do amigo. Ela tinha a candura que ele admirava numa mulher. Ele tinha a alegria que ela queria num homem. Mas eles não queriam, ou não conseguiam, se aproximarem como namorados. Os amigos de ambos tudo faziam para uni-los, mas nada funcionava. Alguns chegavam a sonhar com as bodas do casal, e com a possibilidade de serem padrinhos. Se pudessem, os amigos, tomariam a iniciativa, convidariam, declamariam, insistiriam, e fariam tudo mais que fazem os apaixonados para conquistarem seus amores. Mas não podiam. E ficavam os amigos apenas suspirando, e imaginando: "Ai ai, se eles se dessem bola".



Imagem: http://ivanerix.zip.net/
Vídeo: Carnival, The Cardigans (olha a tradução aqui)

3 comentários:

Anônimo disse...

A história da minha vida em um verso do poeta Everardo:

"Não sei se tu me amas, pra quê tu me seduz?"

Gustavo Santos disse...

ai ai...
e que erga a mão quem nunca foi vítima do 'se'. justiceiro e malfeitor, algoz e protetor.

p.s. muito bom ver isso aqui movimentado de novo :)

Eliana Gerânio Honório. disse...

Desculpe,

não deu tempo de pedir autorização.
Seu trabalho está lá no Espaço Mensaleiro.

http://espacomensaleiro. blog spot.com

Um abraço.
Eliana