Bodegas

Dá uma saudade das bodegas de Penaforte... :)

Na bodega de S. Nicolau eu pedia pra ele anotar no caderno que eu tinha pego (por exemplo) R$2,00 de biscoito, mas pegava apenas R$1,00 e pedia o troco. E ele me dava!!! Aliás, S. Nicolau tinha até foto de mim quando bebê guardada na gaveta, e me tratava como uma netinha.

Na bodega de D. Santa eu só ia pra comprar chiclete e paquerar o sobrinho dela. Paquerar mascando chiclete é o máximo, você se sente tão descolada, tão prafrentex. Mas naquela idade eu ainda não sabia que determinadas paqueras podem ser transformar em namoro, e quando o menino quis conversar comigo, eu mudei de bodega. Eu não queria namorar, eu só queria brincar de paquerar, do mesmo jeito que eu brincava de amarelinha e de concurso de miss. Não tenho paciência pra gente que não sabe brincar ou não entende piada.

Já a de D. Jesus era uma espécie de "lanchonete" para sertanejo. Doces, bolos, caldos e cuscuz de todos os tipos. Era o paraíso das crianças que gostam de mangai (que é o mesmo que bobagens deliciosas), e onde eu e meus irmãos fizemos as dívidas mais absurdas para meus pais.
Dona Jesus tinha dois tipos de doce de leite: o liso e o cortado; e três tipos de bolo de trigo: o liso, o fofo e o mole. As variações não eram apenas de consistência, eram também os motivos da comida ser tão divertida ali. E, é claro, ainda havia os doces de banana, mamão, mamão com coco, batata doce, gergelim, e os bolos de puba e de milho, e as cocadas, e o caldo de mocotó, e o cuscuz com carne, e o pão torrado com manteiga de garrafa, e o café moído em casa, e a cajuína em garrafa de cerveja, e finalmente o copo de água de pote para desentalar a garganta e limpar os rins.

Ahh, eu quase esqueço da Bodega de S. David, onde se vendia pingas, cervejas, cigarros, balas e doces industrializados, e outras coisas de que não me lembro. Eu não costumava frequentá-la, afinal lá não havia atrativos para mim. Meu nicho eram os doces e bolos regionais. O industrializados só me interessavam se houvesse uma segunda intenção por trás. Mas S. David era famoso por ser muito fofoqueiro, e por falar as coisas mais hilárias sobre qualquer pessoa, por isso sua bodega era ponto de referência na cidade. Meu avô adorava conversar com ele. S. David pertence ao hall de "figuras folclóricas" de Penaforte.

PS: Já perceberam que todos os nomes de donos de bodega que citei aqui remetem a algum personagem bíblico? Coincidência, eu garanto. Mas não me admira, afinal, em Penaforte também existe o "Bar do Padre".

2 comentários:

Vanilda Teixeira disse...

Era tudo isso mesmo e muito mais estas bodegas. Na minha infância já tinha esses pontos de venda e havia a venda de Dona Olieta com seus pastéis, o famoso puxa e encolhe (pixincói na linguagem do povo) pão com doce (pão comprado na padaria de Dona Darci e recheado com o doce de Dona Olieta) e muito mais. Era uma delícia!

Patrícia Muniz disse...

Vanilda, nao acredito que esqueci de D. Olieta!!!!
E ela tambem vendia o rabo de tatu (cone de massa com recheio de sardinha). :D