Entre bocejos e dilemas

A coisa é mais ou menos assim: você passa uma vida correndo atrás do que você acha que te faria feliz, e um belo dia (belo mesmo) você entende que a felicidade não depende disso. Hoje eu me sinto feliz, a ponto de conseguir olhar pra o pôr-do-sol, bocejar e sorrir, a ponto de me lembrar eventualmente de como amo meus pais, a ponto de conseguir pensar em nada quando há nada para fazer. Hoje entendo que felicidade não é euforia. Felicidade é tranquilidade.

Como toda pessoa que conheço, passei momentos de minha vida ruminando alguns questionamentos, mas se não os tenho resolvidos hoje é por não precisar resolvê-los com aquele senso de urgência que havia antes.

Na profissão eu vivi o dilema de estar deixando de fazer o que me dava prazer e assumir responsabilidades que não me considerava apta a desempenhar. Me angustiei com o medo de virar uma profissional medíocre, frustrada, e assim já estava me tornando isso. Então entendi que isso não era uma cilada profissional, mas a evolução natural de qualquer profissão, e mais ainda para a minha. Eu não precisava deixar de fazer o que gosto e acho que faço bem, eu apenas tive a oportunidade de alargar meus conhecimentos, de experimentar novos desafios e aprender a superá-los. Se eu não era excelente no que fazia, então que aproveitasse a oportunidade para me tornar. É uma idéia digna de palestras motivacionais, mas que demora a ser assimilada de verdade quando se é resistente a mudanças (e eu sou muitas vezes). O resultado disso é que ganhei mais confiança em mim mesma. Se hoje sou excelente no que faço? Acho que ainda tenho muito a aprender, mas estou muito satisfeita minha disposição para aprender. Não involuí como analista de sistemas, mas cresci como profissional.

No amor tive que aprender o que é uma relação intensa e uma relação boa. Engraçado é que eu achava que já sabia, mas estava completamente enganada. A pessoa que jamais viveu uma relação intensa pode ter certeza de que não viveu, mas nem toda relação intensa é boa para ser vivida por muito tempo. Por outro lado, uma boa relação não se constrói apenas de coisas boas. Uma boa relação precisa passar por momentos difíceis para que se mostre forte e pronta para o que der e vier. Uma boa relação precisa ser testada vez por outra, e se garantir no seu teste. É por isso que hoje tenho mais segurança para abrir mão de relações que não me tragam o que preciso, seja intensidade ou maturidade. E abro mão sem precisar colocar a culpa em alguém, nem me sentir culpada, afinal não existem relações individuais, todas são entre duas pessoas, pelo menos.

Também no amor (agora fraternal) tive o medo (aliás, pavor) de mais uma vez perder entes queridos, seja por saúde, seja por toda essa violência que nos persegue por onde andamos. Não consigo suportar a dor de ver as pessoas que eu amo sofrendo, mesmo sendo bastante fria quando o problema é comigo. Há solução para isso? Talvez a solução fosse gostar menos das pessoas. Mas a verdade é que para essas pessoas, saber que alguém os ama tanto já é uma espécie de solução. É o amor que nos dá forças para superarmos as adversidades, e se o meu amor os ajuda tanto, então que me importa sofrer. Sofro "feliz" por contribuir com essa fonte de cura tão importante.

E assim eu e a humanidade caminhamos. Eu bocejando para o pôr-do-sol, de vez em quando.

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