De Corpo e Alma

Às vezes me pergunto porque sofremos tanto. Sofremos pelo amor perdido, pelo ente querido que se foi, pelo amigo que também sofre, pelos planos grandiosos que falharam, e às vezes, por nada. Sofremos demais.

Mas porque não sofreríamos, se amamos tanto? Algumas pessoas têm uma maneira de amar tão intensa, tão visceral. É natural que sofram na mesma proporção. E muita vezes, aquela fortaleza indestrutível que outras pessoas transparecem, é na verdade uma máscara para uma dor mais dilacerante ainda. Atrás daquelas muralhas deve gritar uma alma desesperada para se libertar. E se não sofre, então, acho eu, também não ama imensamente.

E agora eu confesso, muitas vezes prefiro as pessoas que sentem em demasia. Exagerados, sem limites, quase loucos de tanto sentir, de corpo e alma, com carne e sangue. Prefiro aquele que xinga pornograficamente quando tem raiva, que chora copiosamente quando se vê sem saída, que chuta o pau da barraca, grita alto, esmurra o travesseiro, e aponta o dedo na cara. Mas que também beija escandalosamente, come com os olhos, lacrimeja quando gargalha, desaba os ombros quando está aliviado, pede perdão de joelhos e deixa todo mundo constrangido, mas inebriado com tanto ardor. Ninguém pode dizer que uma pessoa assim não vive, e que seu sangue não corre nas veias em alta velocidade.

Quem vive seus sentimentos como terremotos não impõe limites para a dor, ou para o prazer. O ontem não existiu quando se está muito feliz, tampouco existirá o amanhã quando se está muito triste.

4 comentários:

Nancy Lyra disse...

"E se não sofre, então, acho eu, também não ama imensamente."

"Prefiro aquele que xinga pornograficamente quando tem raiva, que chora copiosamente quando se vê sem saída, que chuta o pau da barraca, grita alto, esmurra o travesseiro, e aponta o dedo na cara."


Permita-me discordar, mas sinceramente não vejo muita relação entre falta de educação e sentimentos. Auto-controle nada tem a ver com falta de amor, Paty.
A gente sofre, erra, aprende, os pais educam, a vida também e embora aparentemente mais "frios", estamos mais polidos pra uma vida em sociedade. O que não quer dizer, necessariamente, que o coração não esteja transbordando de amor. Bom, é minha opinião e condiz com o meu jeito de ser nos últimos anos.

Patrícia Muniz disse...

Concordo com voce nesse ponto, Nancy :)

Mas o que eu quero dizer, na verdade, é que prefiro aqueles que expressam o que sentem quando a dor é grande, e quando a situacao pede. Porque as vezes precisamos saber se o outro, pelo menos, sente.

Eu tambem constumo dosar meus atos, e nao extrapolar o que é so meu, mas se um dia eu precisar chutar o pau da barraca pra que alguem saiba que estou doída, eu vou chutar (de novo). :)

E obrigada pelo comentario. Gosto de conversar essas coisas contigo. ;)

Gustavo Santos disse...

Opinião humilde de um leigo intérprete de emoções:
No íntimo da alma de todo ser humano, os mesmos sentimentos são compartilhados. No entanto, o extravaso deles apresenta-se individualmente das formas mais sutis às mais extravagantes. É claro que a representações caricatas nos atraem a simpatia, pela simplicidade da leitura e facilidade de interpretação. Mas transparência excessiva e sentimentos exacerbados têm um preço, para si e para os que são compelidos a tolerar.
Receita para não sofrer? Não há. A insatisfação é uma propriedade humana e extravasar os sentimentos os amenizam e os agravam na mesma proporção.
Receita para paz de espírito? Ser sempre o mais moderado possível e compreender ao máximo as demasias alheias (obviamente não vale durante desenvolvimento de código ou jogos coletivos :)).

Patrícia Muniz disse...

Esse post foi realmente polêmico. Que bom. :)
Agora que acordei mais relaxada, repenso até algumas coisas que escrevi.

De fato, hoje estou menos visceral do que ontem, e não gostaria de topar com alguém subindo nas tamancas na minha frente logo de manha. Há que se ter muita sutileza para abordar uma pessoa sonolenta.
E agora eu confesso, muitas vezes também prefiro as pessoas que exalam sentimentos com olhares, com sorrisos singelos, com pequenas lágrimas ou apenas com um silêncio revelador. Nem sempre são necessários movimentos bruscos, arroubos de fúria ou explosões.
Basta uma sintonia de energia. Mas que haja algo para se transmitir, porque sem isso, estamos sozinhos e nos fazemos sozinhos.

:)