Quero ir

Quero ir para Paris. Paris na primavera. Quero usar um lenço lilás no pescoço, e uma boina. Quero passear em Montmartre para ver as ruas, e na Champs Elysées para ver os turistas. Quero fazer algum francês mal-humorado rir de alguma coisa. Quero paquerar no metrô. Quero passar horas visitando papelarias e lojas de decoração. Quero arriscar algumas frases em francês, e me sentir o máximo, mesmo que o francês mal-humorado não me entenda. À primeira vista, quero sentir inveja das francesas sedutoras e inacessíveis, e depois constatar que aquilo também é mal-humor, embora ainda pareça sedutor. Quero sentir o peso da história nos corredores do Louvre. Quero um fabuleux destin, como o de Amelie Poulain.

Quero ir para Porto de Galinhas. Porto na baixa temporada. Quero dormir e acordar com o barulho do mar. Quero dar comida aos peixes. Quero ver crianças brincando na areia. Quero me apaixonar nas piscinas naturais. Quero me deliciar com a fala cantada dos nativos. Quero cochilar depois do almoço. Quero sentir o cheiro do mar, junto ao de protetor solar. Quero beber um suco de fruta natural. Quero sentir inveja da pele dourada das banhistas. Quero sentar embaixo de um guardar sol, e não conseguir pensar em qualquer coisa útil. Quero me sentir simultaneamente pequena e imensa diante do mar azul. Quero uma vida temperada com adrenalina, como a de um surfista em Maracaípe.

Quero ir para o Juazeiro do Norte. Juazeiro em plena Romaria. Quero pagar uma promessa no Horto, e ouvir a Hora da Graça. Quero namorar na praça. Quero ir ao Passeio das Almas. Quero ver a agitação dos vendedores do Mercado Central. Quero descobrir algum amigo em comum com o primeiro estranho que passar. Quero visitar minhas tias. Quero marcar uma consulta com algum vidente devoto das almas, e descobrir que vou viajar pra longe. Quero viajar do Juazeiro para o Crato. Quero sentar na calçada, e ouvir as profecias do sertão. Quero atravessar a cidade pra comprar a melhor massa de tapioca e um cacho de bananas. Quero sentir o misticismo no ar. Quero subir a ladeira do Horto acompanhada de amigos. Quero admirar a fé de um romeiro. Quero uma aura de mistério, como a da Beata Maria de Araújo.

Depois quero voltar para casa, matar a saudade e dormir até tarde.