O retorno ao Monte Saint Michel

A cinco anos atrás conheci o Monte Saint Michel, na Normandia, litoral norte da França. Meio que por acaso, ganhei o ingresso para o jantar de encerramento de um congresso do qual estava participando nas proximidades. De início o ingresso apenas me dava acesso a um passeio qualquer, seguido por um jantar francês tradicional. O passeio qualquer seria antes do jantar, e era apenas um detalhe diante da minha empolgação pelo jantar (não pela fome, mas pelo evento).

Eis que chego ao monumento de Saint Michel, e me deslumbro: uma catedral belíssima, construída em cima de um rochedo, e rodeada por uma das cidadelas medievais mais antigas da Europa. A catedral é feita de pedra e data do século X, ou seja, tem mais de quinhentos anos, e é considerada um triunfo arquitetônico da época. Pouco se sabe sobre a forma como as pedras foram transportadas para o monte, que torna-se uma ilha rodeada por águas muito agitadas quando a maré sobe, e de areias movediças quando a maré desce.

A história do lugar também é interessantíssima: Acredita-se que tudo começou em 708, quando o bispo de Avranches sonhou com São Miguel Arcanjo, pedindo-lhe que construísse um local de oração naquele rochedo. O bispo se negou a acreditar no próprio sonho, imaginando ser fruto do seu subconsciente, até que o arcanjo perdeu a paciência e, no terceiro sonho, perfurou a cabeça do bispo com o dedo. E foi construída uma capela em cima do rochedo, que logo tornou-se local de romarias. Com o passar dos anos, a pequena capela deu lugar ao magnífico santuário. Nesse meio tempo, durante a Guerra dos Cem Anos, Saint Michel também foi motivo de disputas entre Franca e Inglaterra, e tornou-se também uma fortaleza medieval. Aliás, a única que não foi tomada pela Inglaterra naquela região. Dizem os livros que isso foi um dos milagres do próprio arcanjo Miguel, tamanho era o poder da Inglaterra na época, e tamanhas foram as resistências naturais do rochedo consagrado ao arcanjo.

Bem, voltando ao meu deslumbramento: depois de visitar alguns pontos da catedral e da cidadela, fomos ao jantar. Para minha felicidade o restaurante tinha uma vista privilegiada do monumento, que é ainda mais lindo à noite. Tudo* estava incrível naquele dia.

E Saint Michel recebeu um selo de lugar preferido nos meus arquivos pessoais.

Recentemente visitei Saint Michel novamente, e meu deslumbramento só aumentou. Passeando pelas ruas e escadarias, descobri um cemitério e casas muito charmosas. Infelizmente ainda não pude desfrutar de um passeio noturno pelas ruelas medievais, nem do tradicional omelete de frutos do mar, nem da caminhada pela baía, nem de tantas outras maravilhas que o lugar pode me oferecer. Pelo menos tenho muitos motivos para voltar lá várias vezes nessa vida.

*Tudo, exceto o jantar. Não consegui comer a carne de cordeiro praticamente crua, e tive que ouvir algum desaforo incompreensível do garçom quando pedi para assá-la mais. Mas essa é outra história, que acabou tornando-se divertida, e que pode ser contada em outro momento.

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