Tem poesia no ar

Esses dias estão sendo muito ricos para mim. Estou descobrindo lugares, pessoas e coisas novas, que me tocam com poesia e arte, beleza e encantamento.

Vem um encantamento das coisas da terra, como a música de Geraldo Júnior, lá do Juazeiro do Norte. Que agradável surpresa ouvir forró pé-de-serra com poesia, com graça e leveza.



O disco completo está em http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/geraldojunior/.

Em dias assim tenho vontade de verbalizar tudo o que sinto, mas as palavras não me vêem. Elas tombam no caminho porque me falta jeito para ampará-las. Então, encontrar o blog de Marla de Queiroz foi como um auxílio ao meu desequilíbrio com as palavras. Marla faz ortopedia na minha alma, e textualiza muito do que eu sinto, e muito do que eu não entendo, mas ainda sinto ferozmente.

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"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos.Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. Eu caminho, desequilibrada, em cima de uma linha tênue entre a lucidez e a loucura. De ter amigos eu gosto porque preciso de ajuda pra sentir, embora quem se relacione comigo saiba que é por conta-própria e auto-risco. O que tenho de mais obscuro, é o que me ilumina. E a minha lucidez é que é perigosa (como dizia Clarice Lispector). Se eu pudesse me resumir, diria que sou irremediável!"

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"...
Eu descobri que tenho um jeito de gostar exagerando os fatos e que a ficção é o que mais participa da minha realidade. Mas que sempre fica um rastro na minha pele se alguém se demora nas carícias. E que não se pode ter a força de uma represa retendo seus próprios líquidos.

Quando arrumei minha casa de dentro eu descobri que essa é uma tarefa infinita. E há que se reordenar as coisas incansavelmente pra se ter espaço pruma nova cor. E que uma boa base impede um desmoronamento, mas que a implosão da estrutura inteira, às vezes, é a coisa mais sábia a se fazer em determinados momentos."

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"De mãos dadas
atravessaremos esses becos, avenidas e estradas
à procura de uma trilha
(sonora)
que nos leve a um canto
(afinado)"

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"Eu te agradeço a descoberta de que se não seguimos juntos nessas coisas do amor,
seja porque talvez
eu, veterana
enquanto
você ama-dor."

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"Maria Violão era uma excêntrica convicta: só bebia cerveja com flor, vinho com cravo-da-índia e aguardente com açúcar-cristal...Mas o que mais a embriagava era a poesia. Um dia, arranjou um namorado: João do Cavaquinho.Casaram-se, ela parou de beber e tiveram três filhos: Ana Flauta, Antônio Percussão e Josimar Voz e Violão.

Maria Violão tá grávida de novo: disse que é menina e vai se chamar Música.A casa ficou tão pequena que tiveram que se mudar da partitura pra concha acústica.

Tem dia a briga é tamanha que tudo acaba em choro...
Mas, na maioria das vezes, a harmonia é tanta que tudo termina em samba."

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"E, de repente, ela sentiu uma saudade. Mas uma saudade tão frágil e delicada que vinha destituída de qualquer expectativa de encontro. Era uma saudade seca, oca, sem necessidade de notícias. Como se ela relembrasse uma infância que foi boa, mas que não queria repetir. A saudade, ela mesma, a palavra toda preenchida pela sensação, com rostos, cenários, detalhes tão íntimos, mas sem voz, sem qualquer barulho. Intransitiva e estéril. Fotografia sem foco. Desapegada como um monge. Um copo vazio.

E, de repente, ela tentou organizar a sensação vaga e etérea como quem tenta segurar um raio de sol entre os dedos. Mas parecia ter desaprendido a dizer coisas. A poesia se atirava dela como que preferindo um outro abismo. E as palavras flácidas tentavam se equilibrar no único caminho pontilhado que se apresentava: ela estava repleta de reticências e não sabia como preencher tantas lacunas. Óvulo sem útero. Céu vazio de luas.Vestido órfão de um corpo.

E, de repente, (...)"

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Todos os textos em negrito são de Marla de Queiroz.

3 comentários:

Gustavo Santos disse...

A essência da poesia não está em quem compõe, mas na sensibilidade de quem se faz tocar por ela. E por uma espécie de recompensa da vida, a ausência das palavras que por vezes insistem em não te vir, nos agracia com o rico mosaico do forró genuíno de um Geraldo Júnior e do texto clariciano de uma Marla
de Queiroz.
A poesia mais rica está em você. E é isto que me faz seu fiel leitor. :)

Patrícia Muniz disse...

Gas, nao tenho palavras pra agradecer as suas palavras. :,)
Se a poesia está em mim, entao ela vem do prazer de ter amigos que me inspiram.

Que a poesia esteja com você.

Marla de Queiroz disse...

Nem sei direito como cheguei aqui, mas olha essa surpresa!Geraldo Júnior é meu grande amigo querido.Estive com ele semana passada.E logo abaixo trechos dos meus textos...Sabe quando você não consegue alcançar com as palavras o que sente? Fico assim, com o vago da sensação nas mãos e um peito cheio de alegria.
Beijos meus, tantos.