Plumas ao Vento

É tudo tão estranho.
De repente, o homem do destino assopra nossas vidas como plumas, e elas saem voando ao sabor do vento, sabe-se lá para onde.
Nesse momento, muitos poderiam olhar para trás e pensar: foi só isso? Tudo o que eu planejei para o futuro, tudo o que eu construí, tudo que estava em curso, tudo... tudo se resume a isso?

Não faz diferença se você construiu um império de riquezas ou se nunca conseguiu guardar algo para si, se construiu uma grande rede de relacionamentos ou se viveu como eremita longe de tudo e de todos.
Na hora H, sua perplexidade com a finitude da vida pode ser a mesma.
É que nós humanos temos a tendência a pensar em escala temporal. Tá tudo errado!
Pouco importa o que foi feito ontem, o momento presente, os planos de amanhã. Não é o tempo que devemos medir, tampouco o esforço que empregamos, ou os resultados que alcançamos.

Pode parecer simplório, mas é apenas simples: O que faz diferença é só o amor que você empregou em sua vida. Não é a paixão, nem a devoção. É só o amor sincero e despretensioso.

Ame o fruto de qualquer trabalho digno. Se tiver desafetos, ame-os pelo menos não desejando-lhes o mal. Ame uma cultura ou uma comunidade, mas não desmereça as outras. Ame profundamente seus filhos, ensinando-os a amar os outros. Ame os que já se foram, respeitando o que eles também construíram com amor. Ame até aqueles que ainda não nasceram, cuidando do mundo onde eles viverão. Ame mesmo que ninguém saiba do seu amor, ame sem cobranças, sem posse, sem força. Ame serena e intensamente.

E quando sua pluma for jogada ao vento, você olhará para trás e poderá até achar que tudo o que você construiu e planejou não foi de fato tão importante.
Mas quando você se lembrar do amor que dedicou em sua vida, você poderá dizer: algo realmente valeu à pena, e levarei comigo a qualquer lugar, em qualquer tempo.

E você saberá que se permitindo amar, você amou mais ainda a si mesmo, porque se presenteou com uma vida cujo percurso foi ainda mais gratificante que os objetivos alcançados.

Esse texto foi fruto de uma conversa entre amigos perplexos com a perda de uma querida amiga, cuja pluma foi assoprada repentinamente, deixando todos saudosos, mas agradecidos por todo o amor que ela soube distribuir por onde passou.

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