A Saga continua...

Há praticamente um ano relatei aqui mesmo uma das minhas aventuras rumo ao sertão. Aliás, toda viagem que faço para lá é uma aventura, mas essa me mostrou algo óbvio, que estranhamente eu não havia percebido antes: toda cearense precisa ter uma mala rosa, voluntaria ou involuntariamente.

Depois dessa aventura também acordei para o fato de que andar nas ruas de Juazeiro sem uma máquina fotográfica é um grande desperdício de oportunidades de registrar coisas incríveis, e também uma forma das pessoas não duvidarem das coisas fantásticas que eu vejo, e que só acontecem lá.

Acabo de chegar de lá, e trago mais constatações óbvias que jamais me ocorreram. Eu realmente não sei por que ainda perco tempo dormindo quando chego naquela cidade, tantas são as coisas interessantes que acontecem. É como viajar para a Terra do Nunca e não sair de casa, enquanto os cearenses voam e lutam com piratas. E em se tratando cearenses, não duvido mesmo.

Logo na entrada da cidade há uma placa dizendo "Bem Vindo a Juazeiro do Norte, a terra do povo abençoado por Pe Cícero".
Não demora muito pra você descobrir que aquele povo precisa mesmo estar abençoado, ou já teriam morrido todos no trânsito. É caótico, infestado de moto-taxis, paus-de-arara, ônibus, bicicletas e carroças! E como se o volume de carros já não fosse absurdo, todos dirigem enlouquecidamente, do caminhoneiro ao carroceiro.
Vi uma cena emocionante: um amontoado de carros e motos entrando numa rotatória já cheia de veículos, todos em alta velocidade, e ainda por cima um cachorro tentando atravessar. Era um cruza-cruza de carros tão absurdo que aquilo renderia no mínimo um acidente horroroso. Levei as mãos pra cabeça e gritei pra mim mesma "Valei-me meu Padim Ciço!". Pois não é que milagrosamente aquele nó cego se desfez e todos saíram ilesos, inclusive o cachorro? Na verdade essa cena ocorre em diversos lugares da cidade, várias vezes ao dia, mesmo sem o cachorro. Fico me perguntando se a prefeitura mantém alguém nos pontos mais agitados pra clamar pelo padre sempre que o sinal abre.

Mas se o trânsito te arranca os cabelos, o povo te arranca gargalhadas. Juazeiro tem um imã para as figuras mais inusitadas: beatos cobertos de adereços religiosos, te olhando como se estivessem te desejando um ótimo fim de era; artistas malucos usando óculos de sol, chapéu de massa e bolsa de couro de bode; peruas hilárias das cidades ao redor, que vão à cidade pra comprar panelas de alumínio e bolsas de couro; gente sofrida com cara de feliz porque está na terra do “Padim”; e doidos de todos os sabores e cores. Dá vontade de tirar fotos com todos eles, e dizer “eu sou seu fã, macho véi!”, mas infelizmente eu não sou tão despojada quanto os cearenses de lá.

Mas, continuando minhas pesquisas antropológicas, constatei que a mulher cearense não gosta apenas de malas rosa. Tudo deve ser rosa, se possível. Encontrei um fogão rosa, um ventilador rosa, um DVD player rosa, uma árvore de natal rosa (essa eu não pude fotografar), e (pasmem) Razão e Sensibilidade rosa!!!! Eu não vi, mas minha cunhada me garantiu que há varias motocicletas rosa espalhadas pela cidade.

Enquanto aos homens? Ainda não descobri qual é a deles. Só sei que eles ignoram completamente a existência dos itens rosa, como se nem estivessem ali. Não debocham, não resmungam, não comentam. Mais uma vez eu acho que trata-se da sabedoria do cearense: Respeita o espaço da mulher, que ele não é besta de bulir com as baixinhas invocadas de lá.

Esse é meu Juazeiro, sempre me surpreendendo. Ô povo feliz, afff namm!!

Um comentário:

Gustavo Santos disse...

Cearense que é macho (hipérbole) vê três cores: azul, verde e vermelho. Isso na foto é vermelho e é coisa de mulé. Ô bicho chei de pra quê isso!