Sobre o rumo do vento e o cheiro de chuva

Faz tempo que quero começar esse post, mas tudo parece me impedir: um trabalho atrasado, uma súbita mudança de humor, um post anterior inacabado. Ou talvez tudo isso fosse apenas pretexto pra eu não pensar no que quero escrever.

A vida tem me tratado de maneira estranha. Em alguns momentos cheguei a pensar que ela não gostava de mim, ou que estava agindo como um professor pouco didático, que mostra todo o assunto no quadro, mas não explica pra que serve. Passei por uma fase muito dolorosa, em que fiz um investimento emocional altíssimo, mas não tive retorno. E não poderia deixar de investir, porque para algumas coisas na vida somos educadas a apostar todas as nossas fichas. Tudo pode dar errado, mas se AQUELE investimento é rentável e duradouro, então tá tudo bem.

Mas não foi. Aliás, acho que foi o maior fiasco da minha vida. Eu me sentia presa num quarto escuro, sendo alimentada por emoções negativas e falsas esperanças. Às vezes eu olhava pra o céu e esperava que as estrelas chorassem comigo. Às vezes eu pensava no futuro e só conseguia visualizar uma cortina cinza e empoeirada, encobrindo uma janela embaçada. Foram dias tristes, até que me dei conta de que o brilho dos meus olhos estava se apagando. Aquilo me incomodou profundamente.

Então resolvi arriscar todas as fichas naquilo que parecia o extremo oposto do que eu queria, meu maior medo. Às vezes precisamos mudar completamente o rumo, para, quem sabe, aproveitar a direção do vento. Sem medo de parecer pretensiosa, eu me vejo como uma mulher e tanto, porque não tenho medo de tomar decisões ousadas quando é preciso. Isso já me aconteceu em outras situações, e talvez aconteçam mais e mais vezes na minha vida. Mas não tenho medo de arriscar, tenho medo é de não tentar.

O que aprendi? Que dói demais, fisicamente até, mas quando passa parece que nunca existiu, embora não seja possível apagar da memória. Também aprendi que não devemos insistir naquilo que não nos faz felizes, por medo de sofrermos mais. Se o sofrimento existe, e não passa, então há algo de errado com o rumo tomado.

Como se não bastasse, esse turbilhão de emoções coincidiu com a chegada dos 30. Lembra da tal Volta de Saturno? Eu vivi intensamente cada curva desse retorno, presa ao cinto de segurança como uma criança assustada, no banco de um carro em alta velocidade. Talvez eu ainda esteja vivendo essa jornada, porque ninguém avisa quando acaba, mas já sinto novos ventos na minha vida.

Então, num dia desses, acordei e senti o cheiro e uma brisa suave de chuva. Fui à janela e vi um dia claro, quente, de céu límpido e sol radiante. Nem sinal de chuva. O cheiro e a brisa vinham de dentro de mim. Abri os braços, num gesto completamente simbólico, pra curti meu amanhecer depois da tempestade, e me dei conta de que era outra pessoa. Mudei mesmo, e sinto isso dentro de mim. Me dei conta de que tenho ideais mais fortes do que antes, e que coisas importantes do passado são completamente descartáveis hoje. Hoje sou mais idealista, mais observadora, valorizo muito mais as virtudes do homem e as criações de Deus. Também aprendi a não me preocupar tanto com a opinião dos outros, a não exigir tanto de mim mesma, e a não supervalorizar o que é só exterior. Resolvi romper os 30 como numa virada de ano novo, com direito a calçinha branca e pulinhos com o pé direito.

Essa nova mulher que vos escreve tem planos, muitos planos, mas não vai divulgá-los agora. Ela anda curtindo um brilho novo nos olhos, e o cheiro de chuva no ar.

7 comentários:

carla disse...

Adorei o post!!! :D
Parabéns três vezes: pelo niver, pelas decisões e pela redescoberta! :D :D
beijo grande!

Anônimo disse...

Lindo :)
Quye papai do Céu continue te dando esse dom, viu?
Beijão!

Anônimo disse...

Amiga, tenho certeza que tudo o que aconteceu não passou de aprendizado, ou seja, se você já era essa pessoa maravilhosa, hoje é três vezes mais!
Mil beijinhos!
Te adoro!

Gustavo Santos disse...

I'm your fan!

Unknown disse...

Beethoven...
Sou sua fã de carteirinha! E mais uma vez adorei seu post!!!
E viva as mudanças!!! As boas mudança!!! hehehe
Bjo grande

Anônimo disse...

Impossível não se identificar com seu post. Eu fiz as mesmas reflexões quando ultrapassei a barreira dos 20 anos. E também tive a certeza que eram lições nada didáticas que a vida tentava me dar. Senti muita dor de razão emocional, mas eram dores físicas mesmo! Havia um lugarzinho no meu peito que apertava demais e ficava bastante pequeno contrastando com o tamanho da dor. E como doía! Também percebi que apostei todas as minhas fichas em uma aposta arriscada e assim como você, atribuí esta prática à educação cristã. A diferença é que pra mim, apesar de 7 anos depois, a dor não é ignorável. Eu olho pra trás e vejo tudo cinza: as minhas certezas que eram absolutas, os meus planos que respeitavam um fluxograma exato, as dependências aparentemente inexistentes... não gosto nem de enumerar.
Mas também, diferente de você, eu não me cobro mais essa superação nem atribuo uma resolução do que ficou pra trás. Não cabe a mim remoer sobre improváveis e impotentes razões. Só vai me deixar triste, saudosa, pra baixo. Como boa discípula de Pollyanna que sou, prefiro constatar hoje que se não fossem os ocorridos de outrora, e a minha ousadia de mudar todo o rumo da prosa, eu não teria desenvolvido outras potencialidades nem olharia com tanto ceticismo pra os fatos e verdades que são nos oferecidos a cada esquina.
O resultado mais positivo e talvez encarado como o mais frio (ou duro) aos olhos romancescos é que os planos que faço hoje não obedecem a um fluxograma e não dependem da existência de alguém em minha vida. o "eu" impera sobre o "nós", mesmo que seja muito divertido e belo compartilhá-lo.

Unknown disse...

Te admiro muito Patrícia!! Sou sua fã incondicional.. sei que tenho muito a aprender com você! =D
Te adoro!
bjossss